O Grande Desastre Aéreo de Ontem


Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice.
E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius.
Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor.
Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires.
Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida.
Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda.
E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa.
E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos.
Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão tranqüila e cega!
Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento.
Chove sangue sobre as nuvens de Deus.
E há poetas míopes que pensam que é o arrebol.

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto. Parabéns!

Anônimo disse...

Muito expressivo seu texto, parabéns
pierpaolo